Das 237 áreas importantes para a conservação de aves ameaçadas de extinção no Brasil, apenas 21% estão totalmente protegidas. Cerca de 39% estão parcialmente protegidas e 40%, nada protegidas.
E daí? Problema das aves, certo? Elas até são bonitinhas, carismáticas, algumas ficam cantando o dia inteiro, mas a vida vez ou outra é cruel mesmo, não?
"Isso a gente ouve inclusive de líderes de governo. 'Não vamos fazer uma obra por causa de tal bicho?' As aves são um indicador biológico muito eficiente. Se há uma espécie ameaçada, há algo errado acontecendo. Elas são um bom indicador porque são fáceis de ver, o bicho fica lá cantando, dá para perceber ele desaparecendo. A questão é que junto com ele vão embora espécies vegetais, outras espécies da fauna", diz Pedro Develey, biólogo e diretor de conservação da Sociedade para Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil), responsável pelo estudo.
"As pessoas falam ´o que tem de errado em perder meia dúzia de espécies?´. Imagine se pega fogo no Louvre e a Mona Lisa é destruída. Seria uma comoção. Agora, tudo bem perder uma espécie? É uma visão antropocêntrica demais."
Para Develey, o Brasil vem perdendo muitas mona lisas.
"Só 29% das áreas [importantes para a conservação da biodiversidade das aves] estão sobrepostas a unidades de conservação. Se a gente pensar em números absolutos, não é pouco. Mas é em relação ao tamanho do país."
O maior problema é na mata atlântica. Como não sobrou quase nada dela, a situação é crítica. "Especialmente no Nordeste. Você leva os garotos para fazer educação ambiental aqui no Sudeste, aí eles olham para a mata atlântica, aquela floresta toda, e perguntam quem é que disse que ela está ameaçada. A situação no Nordeste é muito pior do que aqui, lá sobrou muito pouco mesmo", diz Develey.
A Sociedade para Conservação das Aves do Brasil é a representante nacional da BirdLife, uma aliança internacional de ONGs de gente que se importa com as aves. O trabalho de mapeamento foi feito por ela em duas partes. A primeira, sobre a mata atlântica, ficou pronta em 2006. A segunda, com Amazônia, cerrado e pantanal, agora. Cada uma virou um livro.
As áreas importantes para as aves somam 11% do total do território do país. "Acho muito viável manter uma quantidade dessas conservada integralmente", diz Develey. "E, com isso, também ter ar saudável, chuva no sudeste, clima regulado, água para beber, evitar desmoronamentos."
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