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27 de agosto de 2011

Roedores portadores do protozoário toxoplasma gondii perdem o medo de gatos



O protozoário toxoplasma gondii altera os instintos de seus hospedeiros --no caso, os ratos-- em benefício próprio, segundo um estudo recente.

Pesquisas realizadas nos últimos dez anos mostram que os roedores portadores do protozoário perdem o medo de gatos e se aventuram a explorar o ambiente, a ponto de se aproximarem da urina de um felino --o que tradicionalmente não ocorre por ela ser um indicativo de perigo eminente.

Esse comportamento é ruim para os ratos, mas ótimo para o parasita: o toxoplasma se reproduz sexualmente apenas dentro do corpo dos gatos.

Assim, o parasita infecta o rato, e o gato come o rato, abrindo possibilidade para o parasita se reproduzir.

O toxoplasma também pode infectar outros animais, incluindo os humanos, nos quais causa a toxoplasmose --por isso a advertência para se evitar o contato com fezes de gatos.

MANIPULADOR
A forma como que o parasita muda o comportamento de um rato é explicada por cientistas da Universidade de Stanford (EUA).

A infecção pelo toxoplasma ativa a região do cérebro do rato responsável pela atração sexual, e o cheiro da urina do gato age sobre este conjunto de neurônios como se o rato estivesse na presença de uma fêmea sexualmente receptiva.

Os neurônios que desencadeiam a reação normal de medo imobilizante de gatos continuam ativos, porém, a mensagem é encoberta por sinais de atração sexual demasiadamente ativos, suspeitam os pesquisadores.

O coautor do artigo publicado na revista "PLoS One", o neurologista Robert Sapolsky, e seus colegas examinaram o cérebro em atividade de 36 ratos, infectados e não infectados pelo parasita, expondo-os ao odor de um gato ou ao odor de uma fêmea de rato no cio.

Eles se concentraram em estudar dois circuitos neuronais --o do medo e o da atração sexual. Essas duas atividades ocorrem essencialmente lado a lado, em uma região profunda denominada amídala, relacionada às emoções e a diversos comportamentos.

A fim de detectar o nível de atividade cerebral, o grupo mediu a atividade de uma proteína que aparece apenas quando os neurônios estão ativos.

A infecção pelo toxoplasma pode não ser a causadora direta do dano no cérebro, lembra Patrick House, estudante de graduação do laboratório Sapolsky, que conduziu a maior parte da pesquisa.

"O parasita pode provocar uma inflamação ou algum tipo de reação que, por sua vez, afeta o cérebro", explica. "É quase certo que as infecções por toxoplasma em humanos não afetariam o comportamento da mesma forma que acontece com ratos", diz House.

No mundo, cerca de 2 milhões de pessoas são infectadas pelo protozoário, sendo a ingestão de carne um dos meios de transmissão.

Os sintomas iniciais são uma gripe leve e, depois dessa fase, o parasita forma cistos que se alojam no cérebro.

Eles permanecem no local por décadas e acredita-se que exerçam pouco ou nenhum efeito em adultos, com exceção de pessoas com o sistema imunológico comprometido.

créditos: folha de São Paulo

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