A bela borboleta marrom brasileira conhecida como helicônia (Heliconius numata) há muito tempo confunde os geneticistas. Ela tem sete desenhos diferentes de asas, cada um dos quais imita o de uma espécie local diferente de Melineae, outro grupo de borboletas.
Para ajudar a aperfeiçoar sua imitação dos sete modelos de Melineae, as borboletas de alguma forma fecharam o que deveria ser uma série contínua de variação natural em sete desenhos específicos.A guerra biológica é a força que propulsiona esse mimetismo.
As lagartas de Melineae comem plantas principalmente da mortífera família das solanáceas, e absorvem em seus tecidos os venenos alcaloides pirrolizidina. Os pássaros rapidamente aprendem que as borboletas Melineae constituem uma refeição indigesta.
A Heliconius numata também é altamente tóxica porque suas lagartas armazenam glicosídeos cianogênicos das plantas de que se alimentam, que pertencem à família do maracujá. Esses dois tóxicos colaboram para produzir o mesmo conjunto de sinais de advertência porque menos borboletas precisam ser gastas para ensinar às aves a lição necessária.Mas como as borboletas helicônias conseguem ter sete formas diferentes em uma população?
Uma equipe de biólogos franceses e britânicos liderada por Mathieu Joron, do Museu Nacional de História Natural de Paris, descobriu o segredo da borboleta. Ela reúne em um supergene um grupo de 18 genes envolvidos na especificação do desenho das asas.
O supergene é herdado como uma unidade, relatam os biólogos na edição atual da revista Nature. As diferentes versões do supergene coexistem segundo uma hierarquia de dominação.Os pesquisadores identificaram três versões do supergene, em todas as quais um certo segmento do DNA está presente em ordem inversa da sequência habitual.
Provavelmente é assim que o supergene escapa do processo habitual de embaralhamento, que depende do alinhamento dos filamentos de DNA com base na semelhança de suas sequências de DNA. Se um filamento contém um grande pedaço de DNA em ordem invertida, o alinhamento será impedido.Como tanto a helicônia como as sete espécies de Melineae são venenosas, não está claro por que a helicônia deve ser a imitadora e a Melineae, o modelo.
A Melineae tende a ser mais tóxica e também mais comum, disse o doutor Joron, portanto se ela é o parceiro mais forte por esses motivos caberia à helicônia fazer a imitação.Outro enigma evolucionário envolve o uso dos sete desenhos de asas. Se o ciclo de mimetismo Heliconius-
Melineae convergisse em um único desenho, isso não enviaria o sinal mais potente possível? As aves teriam de lembrar de um só desenho como sinal de veneno.Um dos motivos pode ser que cada um dos desenhos é tão eficaz que não há muita pressão seletiva por um sinal mais forte, disse o doutor Joron.Outro é que a área de alcance das borboletas pode ser dividida em micro-habitats diferentes.
Alguns desenhos de asas podem ser mais eficazes para certos predadores.O doutor Joron afirmou que houve algumas sugestões teóricas de que um mecanismo de supergene estivesse envolvido no mimetismo da helicônia.Quando diferentes ordens de genes realmente surgiram do sequenciamento do DNA da borboleta, "foi quase bom demais para ser verdade", disse.
Créditos: folha online