Páginas

6 de setembro de 2010

Bióloga descobre cavalo com tromba que viveu no Brasil

Estrutura permitia que ele, em vez de comer grama como os cavalos atuais, devorasse ramos de arbustos

Causas da extinção de grandes animais como o "Hippidion principale", há mais de 10 mil anos, ainda não estão claras 


Ilustração mostra a espécie se alimentando em arbusto, com pequena tromba saindo da sua face; ao contrário dos cavalos atuais, sua alimentação não era só de grama


O termo preferido pelos biólogos, um tanto hermético, é "probóscide vestibular". Em português mais castiço: uma tromba modesta. O que, em se tratando de um cavalo, é bastante esquisito. Esquisito, mas real, indica a análise de uma bióloga da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro). A explicação para traços misteriosos do crânio do Hippidion principale, que viveu no Brasil na Era do Gelo, é ele ter tido uma "trombinha". "Nos sítios paleontológicos, muitas vezes o Hippidion aparece com o Equus neogeus, semelhante ao cavalo atual", diz Camila Bernardes. "Se animais com parentesco muito próximo habitam o mesmo local, é porque há diferenças entre eles que minimizam a competição." A maior pista veio do osso nasal do crânio do bicho, que é projetado para a frente. "Pelo crânio, parece um unicórnio", brinca a bióloga.
O lugar onde se encaixam o osso nasal e o osso maxilar do bicho é recuado perto do que se vê nos cavalos de hoje, e a região é cheia de depressões, as chamadas fossas. É possível saber, analisando calombos e depressões na estrutura óssea, como eram os músculos de um animal.

Assim, Bernardes concluiu que os músculos responsáveis por erguer o lábio superior do Hippidion eram bem mais potentes, e capazes de repuxar o beiço do bicho por uma extensão maior, do que os dos equinos atuais.
A tromba possivelmente ajudava o animal a ser especialista em agarrar e devorar ramos de pequenos arbustos com o superlábio. Assim, ele não competia tanto com o Equus, um comedor de grama, como os cavalos atuais.
O bicho tinha patas relativamente curtas. Era parrudo, quase um pônei, e habitava savanas bastante secas. Seus fósseis foram encontrados em sítios do Piauí à Bahia, no Nordeste, e em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, além de Peru, Bolívia e Argentina. A distribuição do Equus neogeus é similar. Todos os cavalos sul-americanos estavam extintos quando a Era do Gelo terminou, há 10 mil anos -os cavalos atuais foram "importados" há poucos séculos. As causas do sumiço são controversas. Para uns, grandes herbívoros foram caçados até a extinção pelos primeiros humanos que chegaram às Américas. Para outros, a culpa foi das mudanças climáticas, que teriam gerado perda de habitat.

Créditos: FolhaOnline

Nenhum comentário: