O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) identificou, por meio de análises em laboratório, que os casos de diarreia e vômito que atingiram passageiros de um navio aportado em Búzios (RJ) no início de março foram causados por norovírus. O laudo foi encaminhado aos órgãos de vigilância em saúde. As análises, realizadas no Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC, utilizaram técnicas de diagnóstico molecular, baseadas na identificação do material genético do vírus nas amostras.
Técnicas de diagnóstico molecular com base no material genético do vírus foram utilizadas na análise das amostras recebidas pelo laboratório do IOC |
Apesar de ser pouco conhecido do público, esse vírus transmitido por água e alimentos contaminados é um importante causador de gastroenterites não bacterianas no Brasil. A transmissão de pessoa para pessoa ocorre com facilidade. Diferentemente de outros vírus causadores de gastroenterites (como o rotavírus), o norovírus afeta com frequência indivíduos adultos. Os norovírus estão muito associados a surtos em locais confinados ou de contato próximo, numa mesma família, em navios, asilos e ambientes hospitalares, por exemplo. “Os norovírus hoje são um problema mundial, por sua rápida transmissão e difícil controle. Eles são responsáveis por 99,9% dos surtos de gastroenterites em navios”, afirma o virologista José Paulo Gagliardi Leite, chefe do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC.
Nos casos analisados, foi identificado o norovírus do subtipo GII.4 – o mais presente no mundo. No momento, está sendo realizado o sequenciamento genético do vírus encontrado nas amostras para depósito no GenBank, banco de dados que reúne sequências genéticas de organismos depositadas por cientistas de todo o mundo. “Como a variabilidade genética dos norovírus é muito grande, quando fazemos o depósito das sequências genéticas estamos contribuindo, com os dados relativos ao Brasil, para montar um grande panorama de quais vírus ocasionam surtos no mundo”, afirma a virologista Marize Miagostovich.
Manipulação de alimentos é maior risco
A facilidade de transmissão dificulta muito o controle de surtos. Nestes casos, deve-se buscar a fonte da contaminação e combatê-la. “O principal risco é a manipulação dos alimentos”, informa Marize. Ela esclarece que a lavagem das mãos é fundamental para evitar a transmissão do norovírus.
O norovírus tem alta infecciosidade: apenas uma partícula viral é necessária para infectar uma pessoa. O contato com o aerossol do vômito de uma pessoa infectada, por exemplo, pode ser suficiente para a transmissão. Além disso, tem alta resistência, permanecendo em superfícies com as quais uma pessoa infectada teve contato, o que torna o compartilhamento de espaços e objetos um problema.
Frente à imensa dificuldade no controle da transmissão, o desenvolvimento de uma vacina surge como uma possível solução. Estudos têm sido desenvolvidos nos Estados Unidos com vacinas candidatas. “Como existe alta variabilidade genética dos norovírus, o desenvolvimento de uma vacina se torna complexo. Talvez, a saída seja o desenvolvimento de uma vacina atualizada periodicamente, acompanhando o monitoramento dos vírus circulantes, como acontece hoje com a vacina da gripe”, pondera José Paulo Leite.
No caso dos norovírus, dados sobre a ocorrência de casos assintomáticos ainda são escassos e, como os norovírus circulantes têm alta variabilidade genética, o período de imunidade de uma pessoa à infecção é baixo, já que as reinfecções provavelmente se darão por outros tipos de norovírus.
Foco em pesquisa e diagnóstico
O Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC trabalha intensamente na investigação dos norovírus – que a ciência descobriu recentemente, apenas na década de 1970. Em 2009, os pesquisadores desenvolveram uma metodologia inovadora – a primeira capaz de detectar o norovírus em alimentos, e não em mostras clínicas de pacientes. No mesmo ano, o laboratório recebeu 13 Laboratórios Centrais (Lacens) do país para o curso de coleta, acondicionamento e transporte de amostras de agentes para pesquisa de vírus ambientais. Assim, os Lacens foram capacitados para, ao receberem amostras suspeitas de norovírus em suas áreas de atuação, estarem aptos a enviá-las para análise no laboratório.
Convidado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o laboratório participou da iniciativa que resultou no documento Vírus em alimentos: orientações científicas para apoio a ações de gerenciamento de riscos [acesse aqui a íntegra do documento, disponível em inglês]. “O encontro gerou orientações importantes sobre vírus presentes em alimentos, inclusive sobre norovírus. As orientações serão fundamentais para a definição de marcos legais, por exemplo”, comenta José Paulo Leite, único especialista da América Latina convidado a compor o grupo de 21 especialistas convocado pela FAO e OMS. Não apenas no Brasil, a lacuna de legislação sobre o tema permanece um desafio. Neste sentido, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desenvolve o grupo de trabalho do Codex sobre higiene de alimentos, que o laboratório foi convidado a integrar.
Preocupado em fomentar o debate científico sobre tema, o laboratório está organizando o 1º Simpósio Latino-Americano de Virologia Ambiental, que ocorrerá de 5 a 7 de maio, no Rio de Janeiro. Grandes nomes da Virologia nacional e internacional participarão de conferências e debates. Entre eles está Jan Vinjé, do Centro de Controle de Doenças, dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês), um dos maiores especialistas do mundo em norovírus. “Não há registro de eventos na área de virologia ambiental nos países da América Latina. Esta iniciativa é pioneira”, descreve Marize, organizadora do simpósio.
O norovírus tem alta infecciosidade: apenas uma partícula viral é necessária para infectar uma pessoa. O contato com o aerossol do vômito de uma pessoa infectada, por exemplo, pode ser suficiente para a transmissão. Além disso, tem alta resistência, permanecendo em superfícies com as quais uma pessoa infectada teve contato, o que torna o compartilhamento de espaços e objetos um problema.
Frente à imensa dificuldade no controle da transmissão, o desenvolvimento de uma vacina surge como uma possível solução. Estudos têm sido desenvolvidos nos Estados Unidos com vacinas candidatas. “Como existe alta variabilidade genética dos norovírus, o desenvolvimento de uma vacina se torna complexo. Talvez, a saída seja o desenvolvimento de uma vacina atualizada periodicamente, acompanhando o monitoramento dos vírus circulantes, como acontece hoje com a vacina da gripe”, pondera José Paulo Leite.
No caso dos norovírus, dados sobre a ocorrência de casos assintomáticos ainda são escassos e, como os norovírus circulantes têm alta variabilidade genética, o período de imunidade de uma pessoa à infecção é baixo, já que as reinfecções provavelmente se darão por outros tipos de norovírus.
Foco em pesquisa e diagnóstico
O Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC trabalha intensamente na investigação dos norovírus – que a ciência descobriu recentemente, apenas na década de 1970. Em 2009, os pesquisadores desenvolveram uma metodologia inovadora – a primeira capaz de detectar o norovírus em alimentos, e não em mostras clínicas de pacientes. No mesmo ano, o laboratório recebeu 13 Laboratórios Centrais (Lacens) do país para o curso de coleta, acondicionamento e transporte de amostras de agentes para pesquisa de vírus ambientais. Assim, os Lacens foram capacitados para, ao receberem amostras suspeitas de norovírus em suas áreas de atuação, estarem aptos a enviá-las para análise no laboratório.
Convidado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o laboratório participou da iniciativa que resultou no documento Vírus em alimentos: orientações científicas para apoio a ações de gerenciamento de riscos [acesse aqui a íntegra do documento, disponível em inglês]. “O encontro gerou orientações importantes sobre vírus presentes em alimentos, inclusive sobre norovírus. As orientações serão fundamentais para a definição de marcos legais, por exemplo”, comenta José Paulo Leite, único especialista da América Latina convidado a compor o grupo de 21 especialistas convocado pela FAO e OMS. Não apenas no Brasil, a lacuna de legislação sobre o tema permanece um desafio. Neste sentido, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desenvolve o grupo de trabalho do Codex sobre higiene de alimentos, que o laboratório foi convidado a integrar.
Preocupado em fomentar o debate científico sobre tema, o laboratório está organizando o 1º Simpósio Latino-Americano de Virologia Ambiental, que ocorrerá de 5 a 7 de maio, no Rio de Janeiro. Grandes nomes da Virologia nacional e internacional participarão de conferências e debates. Entre eles está Jan Vinjé, do Centro de Controle de Doenças, dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês), um dos maiores especialistas do mundo em norovírus. “Não há registro de eventos na área de virologia ambiental nos países da América Latina. Esta iniciativa é pioneira”, descreve Marize, organizadora do simpósio.
Sobre as gastroenterites virais
As gastroenterites virais são transmitidas por meio de água contaminada, alimentos manipulados por pessoas infectadas ou contato direto com o material fecal de uma pessoa doente. Existem diversos vírus responsáveis pela etiologia das gastroenterites, com destaque para rotavírus A, norovírus, adenovírus entéricos e astrovírus. Os sintomas mais comuns são diarreia, vômito, febre e dores abdominais e de cabeça. A recomendação central é evitar a desidratação e procurar auxílio médico. A gravidade pode variar de pessoa para pessoa, mas, em geral, os sintomas costumam desaparecer depois de dois ou três dias.
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